quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Aos meus amores

Um dos livros mais lindos que li recentemente tem um parágrafo que traduz com muita sensibilidade uma das maiores dores que sentimos quando nos relacionamos com alguém: a dor da perda de um amor.

"Quem nunca sofreu por amor nunca aprenderá o que é amar. Amar é o terror de perder o outro, é o medo do silêncio e do quarto deserto, de tudo o que se pensa sem poder falar, do que se murmura a sós sem ter a quem dizer em voz alta. É preciso sentir esse terror para saber o que é amar. E, quando tudo enfim desaba, quando o outro partiu e deixou atrás de si o silêncio e o quarto deserto, por entre os escombros e a humilhação de uma felicidade desfeita, resta o orgulho de saber que se amou". (Rio das Flores, Miguel Souza Tavares)

Ninguém é obrigado a ficar com ninguém se não quiser. Cada um tem um estoque de amor a dar ao outro e é aí que reside a grande dor. Há sempre um que será deixado pra trás com seu amor ainda vivo, válido, disponível e forte e que terá de engoli-lo de volta e digeri-lo até a última gota, sozinho. Sozinho... Esse processo dói profundamente. Eu vivi isso recentemente e sei bem como é. Chega a ser cruel.

O mais difícil nesse doloroso processo é separar as coisas. A saudade dos momentos bons surge a toda hora, com uma música, um perfume, uma cena de um filme e a gente esquece que a relação já não estava boa e por isso terminou. As lembranças queimam como fogo e temos de suportá-las com coragem por que se não elas não nos deixam em paz. É preciso viver esse luto até o fim, como uma vela que se apaga depois de toda consumida. Nao adianta tentar acelerar o processo por que ele não acontece no ritmo que desejamos. Ele tem ritmo próprio e só o tempo vai determinar qual é. Não adianta fugir. Aliás, é melhor nem tentar, por que qualquer desvio ou distração, só irá prolongar a agonia. O jeito é aguentar firme, com muita coragem e confiança.

Mas um dia essa dor se acalma, as lágrimas secam e nem que a gente tente, não consegue mais chorar o fim desse amor. Tudo se encaixa milagrosamente em seus devidos lugares, nas suas devidas proporções. A gente passa a enxergar a pessoa amada do tamanho que ela terá nas nossas lembranças para o resto da nossa vida. Será que isso é o que as pessoas chamam de perdão?

Acho que sim.

É o perdão pelas deficiências do outro. Temos de reconhecer que ele deu o que tinha de melhor e que foi muito, muito bom. E também é o perdão por nós mesmos, que, se queremos mais ou diferente do que estamos recebendo, isso não é um problema a ser creditado a ninguém. Não há nada de errado em nossa maneira de sentir, pois ela é a nossa essência, a nossa alma, que não pode estar errada e tem de ser ouvida e respeitada. Não cabem julgamentos pois não se trata de estarmos certos ou errados. Isso é amor e respeito pelo outro e principalmente por nós mesmos.

Todos aqueles que amei um dia (amo até hoje!) são partes de mim e me fizeram chegar onde estou hoje. Cada um deu a sua contribuição ao meu crescimento e, modéstia à parte, gosto do resultado! Só posso agradecer a vocês e a Deus por ter colocado pessoas tão especiais no meu caminho. Vocês serão sempre meus amores.

Tenho confiança de que pessoas muito bacanas ainda vão surgir na minha vida.
A minha liberdade está na minha capacidade de amar, independente do que receber de volta.

Com carinho,
Ana







Nenhum comentário:

Postar um comentário