sábado, 19 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo!!!

Hoje acordei inquieta...
Aliás, ando inquieta há algum tempo já.
To com vontade de mudar tudo de novo.
Mudar de cidade
Mudar de amigos

Seria uma decorrência natural por estarmos no fim do ano ou seria uma nova crise pessoal que se instalou em mim? Só sei que a insatisfação está imensa.

Olha só que coincidência: peguei um dos meus livros preferidos, Mulheres que correm com os Lobos e abri numa página aleatoriamente escolhida. Encontrei ali a mensagem que traduz exatamente o que sinto... incrível!:

"Se você tentou se adaptar a qualquer tipo de forma e não conseguiu, talvez você tenha muita sorte. (...) É pior ficar ali onde não nos sentimos bem do que vaguear perdida por um período em busca da afinidade psíquica e profunda de que precisamos. NUNCA É ERRADO IR À PROCURA DO QUE PRECISAMOS. NUNCA MESMO. Há algo útil em toda essa tensão. (...) Embora o isolamento não seja algo que se deseje por ser divertido, provém dele um ganho inesperado. As dádivas do isolamento são inúmeras. Ele elimina a fraqueza com os golpes. Ele erradica as lamentações, proporciona um insight penetrante, aguça a intuição, assegura o poder incisivo de observação e de visão de perspectiva jamais alcançados pelas pessoas "aceitas". Ele faz com que tenhamos um anseio maior no sentido de liberar nossa própria natureza e provoca em nós um desejo intenso por uma cultura que combine com essa natureza. Só esse anseio, esse desejo ja faz a pessoa prosseguir."

É exatamente esse o anseio que estou sentindo. Aqui onde estou me sinto fora de lugar. Preciso tomar alguma providência urgentemente!

Tudo isso se dá num cenário muito favorável. Apesar de estar separada há 5 anos, somente agora assinei meu divórcio. Parece que esse ato simbólico me jogou na cara uma liberdade nunca vivida antes. EU ESTOU LIVRE!!!! Posso fazer o que bem entender, na hora que quiser, com quem quiser. Isso é muito novo pra mim, que vivi a vida toda com pessoas dependendo de mim, me fazendo cumprir tarefas, horários, metas, etc desde muito cedo na vida. Tenho o mundo a descobrir e estou adorando!!!!! Quero abraçar essa sensação e saboreá-la até a última gota e, se for o caso, ficar embriagada.

Outra coisa favorável: hoje sou mais madura, tenho alguma sabedoria de vida, sei separar melhor o que é bom e ruim para mim. Estou num processo de autoconhecimento ferrado há algum tempo, justamente por estar vivendo sozinha há algum tempo. Esse ano foi muito rico para meu desenvolvimento pessoal. Ficar totalmente sozinha na vida, sem um homem ao meu lado, sem minha família, longe dos meus filhos foi muito difícil. Tive de constatar muita coisa que antes fingia não enxergar. Tive muito medo. Chorei muito, emagreci, perdi minhas forças, sofri. Vivi um ano de forma bastante introspectiva, solitária. Fiquei longos períodos enfurnada no meu canto refletindo, lendo e curtindo a companhia de alguns poucos e selecionadíssimos amigos. A vida social existiu, claro, mas ela me cansava... Não tenho paciência para os papos fúteis das pessoas.

Hoje posso dizer que o pior já passou. Estou mais leve, mais confiante, otimista, me permitindo levantar a cabeça para olhar a vida e viver novas experiências, novos contatos. E por incrível que pareça, algumas pessoas interessantes têm se aproximado de mim e me mostrado que há gente de todo tipo no mundo. Basta encontrarmos a nossa praia, aquela em que a nossa natureza selvagem possa florescer e viver feliz.

Agora só me resta planejar, pensar, analisar opções, pavimentar o caminho para me lançar ao desconhecido novamente. Já fiz isso antes e provavelmente farei melhor agora, mais experiente. O medo do desconhecido vai tentar me paralisar, me fazer recuar e insistir no desconfortável mundo onde tudo é conhecido mas insuficiente. Como faço para encontrar o meu lugar? Como ter coragem para me lançar nessa procura? Confio que o impulso de vida que tenho dentro de mim vai me ajudar, pois ele não me deixa ficar acomodada.

Que o novo ano me traga coragem, sabedoria e sorte para encontrar bons caminhos para a minha vida!!!

A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. - Fernando Pessoa




sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Eu quero ter tudo na vida

Outro dia, conversando com um amigo, falávamos sobre ter tudo na vida. Ele me dizia que para ele a vida só vale a pena se a gente puder ter tudo, sem abrir mão de nada (ou algo assim).

A gente vive ouvindo a toda hora que "nao dá pra ter tudo na vida". E é desse paradigma que ele discorda. Esse papo não me sai da cabeça e desde então tenho refletido muito sobre o assunto. Num primeiro momento minha reação foi reafirmar que não é possível ter tudo na vida e eu me remeti imediatamente à minha estória de vida, claro, pois não saberia opinar sobre a de outra pessoa.

A minha vida foi primordialmente pautada pela dedicação ao outro. Certos ou não, os caminhos se foram fazendo sem que eu tivesse tido forças e determinação para escolhê-los 100% de acordo com as minhas convicções, o meu jeito de ser e minhas intuições.

Minha maior e até o momento única realização na vida são os meus dois filhos. Não foi fácil tê-los tão nova, inexperiente, mas não sem consciência da imensa responsabilidade que é ter uma vida dependendo de mim, o que dirá duas vidas? Esse foi o maior desafio que tive de enfrentar na vida e aconteceu quando eu tinha apenas 20 anos. Eu jamais recomendaria isso para minha filha! Pelo menos não aos 20 anos. Felizmente ela já está com 22...

Sou forçada a usar uma encruzilhada dessas como exemplo de que não dá pra ter tudo na vida. Pelo menos era o que eu pensava com muita clareza na época. Eu estava no meio da faculdade de Direito, tinha sonhos e planos profissionais a serem iniciados ainda. Um filho naquele momento fez uma reviravolta nesses planos e eu tive de colocá-los de lado até 2a ordem. Eu não contava com ajuda de ninguém e talvez por fraqueza, inexperiência, imaturidade ou falta de orientação e apoio, não consegui ser boa mãe e boa profissional simultaneamente. Até tentei por um tempo. Mas a chegada da minha filha me fez ver que eu não tinha escolha: tinha de ser mãe. Naquele momento eu pensava que filho e vida profissional eram coisas incompatíveis. Meus filhos não tinham culpa de nada. Eu é que tinha a maturidade (amadureci na marra em mto pouco tempo) para cuidar deles e discernir entre meus erros e fraquezas e a responsabilidade de longa duração que se impunha a mim naquele momento.

Foi muito difícil. Eu tinha muito medo, pavor!, me sentia frustrada, assustada, desprotegida, achava que não daria conta de tudo e, pior, eu não sabia lidar com o peso de um passo tão definitivo que é ter um filho. Eu era totalmente imatura e despreparada e não tinha como desistir, abandonar, voltar atrás. Sei que há mães cruéis o suficiente para agir assim. Eu não sou assim, graças a Deus.

Hoje, 27 anos depois, consigo olhar para esse medo tão distante no tempo e ainda tão vivo em mim que chego a senti-lo novamente, igualzinho, paralizante, mas com uma diferença: a constatação de que o loooongo e árduo caminho percorrido deu certo. Consegui cumprir minha tarefa e acho que tirei boas notas no final.

Tenho dois filhos bonitos (não só fisicamente), educados, inteligentes, companheiros, amigos, interessados, cuidadores, bons profissionais, esforçados. Vão me substituir muito bem nesse mundo. Por todos esses anos eles foram a razão da minha existência. Já são independentes nas coisas práticas da vida mas continuamos unidos por um amor imenso. Eles são as únicas pessoas no mundo em quem eu confio e sei que posso contar.

Criar um filho, ter alguém cujo destino e formação depende apenas de nós é um exercício diário de amor, doação, tolerância, desprendimento. Educar nos humaniza, nos deixa menos egoísta, nos faz entender que tudo na vida tem dois lados (só 2?) nos dá paciência e muita, muita sabedoria. Eu quase não tenho experiência profissional, mas tenho muita experiência de vida, de relacionamento, de amor e doação. Sou hoje uma mulher realizada e feliz por isso.

Somente agora é que estou começando a repensar e retomar uma vida profissional para chegar até onde for possível. Com certeza não vou chegar tão longe quanto uma pessoa que sempre foi livre para exercer a profissão que escolheu. Mas sei que toda essa inteligência emocional adquirida ao longo desses anos vai me ajudar muito e qualquer que seja o grau de sucesso profissional que eu alcançar, estarei obtendo a 2a grande conquista da minha vida. A primeira foram os meus filhos.

A duras penas talvez eu ainda consiga ver que meu amigo tem razão: a gente pode sim ter tudo na vida. Talvez precisemos apenas entender que nem sempre temos tudo ao mesmo tempo, mas cedo ou tarde, o que é nosso vem até nós... Não é, Beto?