"Quem nunca sofreu por amor nunca aprenderá o que é amar. Amar é o terror de perder o outro, é o medo do silêncio e do quarto deserto, de tudo o que se pensa sem poder falar, do que se murmura a sós sem ter a quem dizer em voz alta. É preciso sentir esse terror para saber o que é amar. E, quando tudo enfim desaba, quando o outro partiu e deixou atrás de si o silêncio e o quarto deserto, por entre os escombros e a humilhação de uma felicidade desfeita, resta o orgulho de saber que se amou". (Rio das Flores, Miguel Souza Tavares)
Ninguém é obrigado a ficar com ninguém se não quiser. Cada um tem um estoque de amor a dar ao outro e é aí que reside a grande dor. Há sempre um que será deixado pra trás com seu amor ainda vivo, válido, disponível e forte e que terá de engoli-lo de volta e digeri-lo até a última gota, sozinho. Sozinho... Esse processo dói profundamente. Eu vivi isso recentemente e sei bem como é. Chega a ser cruel.
O mais difícil nesse doloroso processo é separar as coisas. A saudade dos momentos bons surge a toda hora, com uma música, um perfume, uma cena de um filme e a gente esquece que a relação já não estava boa e por isso terminou. As lembranças queimam como fogo e temos de suportá-las com coragem por que se não elas não nos deixam em paz. É preciso viver esse luto até o fim, como uma vela que se apaga depois de toda consumida. Nao adianta tentar acelerar o processo por que ele não acontece no ritmo que desejamos. Ele tem ritmo próprio e só o tempo vai determinar qual é. Não adianta fugir. Aliás, é melhor nem tentar, por que qualquer desvio ou distração, só irá prolongar a agonia. O jeito é aguentar firme, com muita coragem e confiança.
Mas um dia essa dor se acalma, as lágrimas secam e nem que a gente tente, não consegue mais chorar o fim desse amor. Tudo se encaixa milagrosamente em seus devidos lugares, nas suas devidas proporções. A gente passa a enxergar a pessoa amada do tamanho que ela terá nas nossas lembranças para o resto da nossa vida. Será que isso é o que as pessoas chamam de perdão?
Acho que sim.
É o perdão pelas deficiências do outro. Temos de reconhecer que ele deu o que tinha de melhor e que foi muito, muito bom. E também é o perdão por nós mesmos, que, se queremos mais ou diferente do que estamos recebendo, isso não é um problema a ser creditado a ninguém. Não há nada de errado em nossa maneira de sentir, pois ela é a nossa essência, a nossa alma, que não pode estar errada e tem de ser ouvida e respeitada. Não cabem julgamentos pois não se trata de estarmos certos ou errados. Isso é amor e respeito pelo outro e principalmente por nós mesmos.
Todos aqueles que amei um dia (amo até hoje!) são partes de mim e me fizeram chegar onde estou hoje. Cada um deu a sua contribuição ao meu crescimento e, modéstia à parte, gosto do resultado! Só posso agradecer a vocês e a Deus por ter colocado pessoas tão especiais no meu caminho. Vocês serão sempre meus amores.
Tenho confiança de que pessoas muito bacanas ainda vão surgir na minha vida.
A minha liberdade está na minha capacidade de amar, independente do que receber de volta.
Com carinho,
Ana