sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Eu quero ter tudo na vida

Outro dia, conversando com um amigo, falávamos sobre ter tudo na vida. Ele me dizia que para ele a vida só vale a pena se a gente puder ter tudo, sem abrir mão de nada (ou algo assim).

A gente vive ouvindo a toda hora que "nao dá pra ter tudo na vida". E é desse paradigma que ele discorda. Esse papo não me sai da cabeça e desde então tenho refletido muito sobre o assunto. Num primeiro momento minha reação foi reafirmar que não é possível ter tudo na vida e eu me remeti imediatamente à minha estória de vida, claro, pois não saberia opinar sobre a de outra pessoa.

A minha vida foi primordialmente pautada pela dedicação ao outro. Certos ou não, os caminhos se foram fazendo sem que eu tivesse tido forças e determinação para escolhê-los 100% de acordo com as minhas convicções, o meu jeito de ser e minhas intuições.

Minha maior e até o momento única realização na vida são os meus dois filhos. Não foi fácil tê-los tão nova, inexperiente, mas não sem consciência da imensa responsabilidade que é ter uma vida dependendo de mim, o que dirá duas vidas? Esse foi o maior desafio que tive de enfrentar na vida e aconteceu quando eu tinha apenas 20 anos. Eu jamais recomendaria isso para minha filha! Pelo menos não aos 20 anos. Felizmente ela já está com 22...

Sou forçada a usar uma encruzilhada dessas como exemplo de que não dá pra ter tudo na vida. Pelo menos era o que eu pensava com muita clareza na época. Eu estava no meio da faculdade de Direito, tinha sonhos e planos profissionais a serem iniciados ainda. Um filho naquele momento fez uma reviravolta nesses planos e eu tive de colocá-los de lado até 2a ordem. Eu não contava com ajuda de ninguém e talvez por fraqueza, inexperiência, imaturidade ou falta de orientação e apoio, não consegui ser boa mãe e boa profissional simultaneamente. Até tentei por um tempo. Mas a chegada da minha filha me fez ver que eu não tinha escolha: tinha de ser mãe. Naquele momento eu pensava que filho e vida profissional eram coisas incompatíveis. Meus filhos não tinham culpa de nada. Eu é que tinha a maturidade (amadureci na marra em mto pouco tempo) para cuidar deles e discernir entre meus erros e fraquezas e a responsabilidade de longa duração que se impunha a mim naquele momento.

Foi muito difícil. Eu tinha muito medo, pavor!, me sentia frustrada, assustada, desprotegida, achava que não daria conta de tudo e, pior, eu não sabia lidar com o peso de um passo tão definitivo que é ter um filho. Eu era totalmente imatura e despreparada e não tinha como desistir, abandonar, voltar atrás. Sei que há mães cruéis o suficiente para agir assim. Eu não sou assim, graças a Deus.

Hoje, 27 anos depois, consigo olhar para esse medo tão distante no tempo e ainda tão vivo em mim que chego a senti-lo novamente, igualzinho, paralizante, mas com uma diferença: a constatação de que o loooongo e árduo caminho percorrido deu certo. Consegui cumprir minha tarefa e acho que tirei boas notas no final.

Tenho dois filhos bonitos (não só fisicamente), educados, inteligentes, companheiros, amigos, interessados, cuidadores, bons profissionais, esforçados. Vão me substituir muito bem nesse mundo. Por todos esses anos eles foram a razão da minha existência. Já são independentes nas coisas práticas da vida mas continuamos unidos por um amor imenso. Eles são as únicas pessoas no mundo em quem eu confio e sei que posso contar.

Criar um filho, ter alguém cujo destino e formação depende apenas de nós é um exercício diário de amor, doação, tolerância, desprendimento. Educar nos humaniza, nos deixa menos egoísta, nos faz entender que tudo na vida tem dois lados (só 2?) nos dá paciência e muita, muita sabedoria. Eu quase não tenho experiência profissional, mas tenho muita experiência de vida, de relacionamento, de amor e doação. Sou hoje uma mulher realizada e feliz por isso.

Somente agora é que estou começando a repensar e retomar uma vida profissional para chegar até onde for possível. Com certeza não vou chegar tão longe quanto uma pessoa que sempre foi livre para exercer a profissão que escolheu. Mas sei que toda essa inteligência emocional adquirida ao longo desses anos vai me ajudar muito e qualquer que seja o grau de sucesso profissional que eu alcançar, estarei obtendo a 2a grande conquista da minha vida. A primeira foram os meus filhos.

A duras penas talvez eu ainda consiga ver que meu amigo tem razão: a gente pode sim ter tudo na vida. Talvez precisemos apenas entender que nem sempre temos tudo ao mesmo tempo, mas cedo ou tarde, o que é nosso vem até nós... Não é, Beto?





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